sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Quando o mais barato não é a melhor compra.

O artigo de hoje, é um pouco diferente do que vimos até hoje no Negócio & Ação! A idéia é alimentá-los um pouco sobre informações recentes quanto à um fato de grande repercussão nacional, bem como instigá-lo a uma abordagem familiar do assunto, possivelmente mudando sua ótica sobre.
Aos que me conhecem pessoalmente, bem como os que lêem meus artigos no
Besteirol Caprichado,sabem que não sou fã do presidente Lula, e muito menos do PT. Assim, reforço com este comentário, meu cunho profissional e imparcial no artigo que segue, onde viso demonstrar a você leitor, os fatores que fazem surpresas em uma cotação,muitas das vezes, fazendo com que nem sempre o mais barato seja a melhor proposta.
A negociação do momento.
Estou falando do projeto Projeto FX-2. Aos que não conhecem, o projeto em questão trata do reequipamento da força aérea brasileira, já sucateada há algum tempo, assim como as suas forças co-irmãs marinha e exército. É um projeto que foi criado em 2006, e que era muito pouco ambicioso inicialmente.
Dadas as recentes descobertas de jazidas de petróleo no litoral brasileiro, bem como a ampliação da influencia brasileira no cenário internacional, em especial na America do Sul, houve a necessidade de se retomar o projeto, porém com ambições maiores, principalmente quando vemos a América populista de Evo Morales e Hugo Chavez (principalmente) ganhar força, e em especial se armar de forma poderosa.
Arte comparativa dos aviões, fonte: Site Estadão, http://migre.me/umgq
Semelhanças do projeto FX-2 com tudo o que já vimos por aqui.

Identificação da necessidade:

Em meados de maio de 2008, onde após alguns estudos estratégicos por nossa defesa, o intuito da FAB (Força Aérea Brasileira) era dotar de uma frota padronizada de aeronaves de caça de múltiplo emprego, com a previsão para o início das operações no Brasil no ano de 2015, tendo com estimativa a sua utilização por aproximadamente 30 anos.

Neste planejamento, a FAB prevê a substituição gradual das frotas de Mirage-2000, F-5M e A-1M (aeronaves atuais). [1]

Seleção de fornecedores capacitados:

Para atender a demanda identificada, seis empresas foram pré-selecionadas e receberam solicitação para apresentarem informações (request for information – RFI): as norte-americanas Boeing (F/A-18 E/F Super Hornet) e Lockheed Martin (F-35 Lightning II), a francesa Dassault (Rafale), a russa Rosoboronexport (Sukhoi SU-35), a sueca Saab (Gripen) e o consórcio europeu Eurofighter (Typhoon).[2]

Estabelecimento de critérios diferenciais da cotação, fatores de desempate.

O processo de escolha da aeronave vencedora leva em conta, principalmente, o atendimento aos requisitos operacionais estipulados pela FAB. Outros critérios utilizados na avaliação dizem respeito à logística, aos custos, às condições das ofertas de compensação comercial e o grau de transferência de tecnologia para a indústria aeronáutica brasileira. [3]

O recebimento da documentação, e a validação das propostas.

Os estudos tiveram por base as informações fornecidas pelas empresas em resposta aos pedidos de informações (do inglês Request For Information – RFI), emitidos em Junho de 2008. Os dados provenientes das empresas participantes foram avaliados de forma sistêmica, considerando aspectos referentes às áreas operacional, logística, técnica, Compensação Comercial (offset) e transferência de tecnologia para a indústria nacional de defesa.[4]

Seleção dos finalistas capacitados.

Com isso, as avaliações foram concentradas nas seguintes aeronaves finalistas: BOEING (F-18 E/F SUPER HORNET), DASSAULT (RAFALE) e SAAB (GRIPEN NG).

As 36 aeronaves, que integrarão o 1º lote, deverão ser entregues a partir de 2014, com expectativa de vida útil de, no mínimo, 30 anos. Assim, ao longo dos próximos anos, haverá a substituição, gradativamente, dos atuais caças Mirage 2000, F-5M e A-1M. O conjunto de conhecimentos e capacitação tecnológica adquiridos nesta aquisição irá contribuir para que o Brasil tenha condições de produzir ou participar da produção de caças de 5ª geração em um futuro de médio e longo prazo.[5]

Decisões quanto ao processo, erros mortais e adjudicação.

Notaram como neste processo de cotação do projeto FX-2, todas as etapas que comentei aqui em nosso blog foram realizadas?

Pois bem, na data de hoje, a imprensa nacional divulgou em diversos meios que o presidente Lula e o Ministro Jobim, chefe das forças armadas decidiram pelo modelo da aeronave, tendo sido esta a mais cara das propostas, no caso, a aeronave francesa DASSAULT (RAFALE).

O sensacionalismo de grande parte da imprensa é algo perigoso e que faz com que a grande maioria das pessoas não consiga no primeiro momento a ter a visão que lhe convido a ter a partir de agora:

Desde meados de setembro, durante as festividades da independência brasileira, onde o presidente Francês Nicolas Sarkozy esteve no Brasil, o presidente brasileiro, Luis Inácio deixou mostras claras (e públicas) das intenções brasileiras em fechar a compra das aeronaves com os amigos franceses. O primeiro erro.

Por mais que Lula quisesse gerar um clima amistoso com o colega Frances, errou em divulgar de forma antecipada o resultado da cotação, mesmo que os próximos pontos favorecessem aos franceses. Abriu-se a porta para a resistência francesa, bem como a desmotivação Sueca e Norte Americana em se fazer algo mais por suas propostas. É fato que não houve manifestação de nenhum dos três lados neste sentido, mas analisando como um negociador, como um comprador, tenho de ver o processo como uma cotação fechada, e que pontos assim“quebram as pernas” de qualquer negociador.

Se por um lado a França começou na frente, os Estados Unidos não. Um dos grandes problemas em se fechar a negociação com o país norte americano nem é o preço, afinal, preço por preço, eles tinham o segundo melhor na proposta, perdendo apenas para os suecos. Por que então eles tinham a maior desvantagem?

Comentei anteriormente que um dos pontos de consideração principalmente para fator de desempate é a capacidade de efetivação da transferência da tecnologia empregada na construção e manutenção destes caças, possibilitando ao Brasil, em especial à EMBRAER poder não só produzir, mas o conjunto de conhecimentos e capacitação tecnológica adquiridos nesta aquisição irá contribuir para que o Brasil tenha condições de produzir ou participar da produção de caças de 5ª geração em um futuro de médio e longo prazo. É fato que os EUA sempre impõem restrições quanto à transferência de tecnologia, mesmo que aos seus aliados, como no caso do veto à venda de aviões Super Tucano da Embraer à Venezuela em 2003, pela existência de componentes americanos, como a turbina turbohélice Pratt&Whitney Canada PT6A-25C utilizada no avião brasileiro. Este episódio desagradou alguns estrategistas brasileiros, pois resultou na aproximação da Venezuela com a Rússia, que vendeu uma aeronave muito superior ao governo venezuelano, o Sukhoi Su-30.[6]

Continuando a análise, o SAAB (GRIPEN NG) foi visto pelo relatório da FAB como o ideal, pois agrupava preço, tecnologia, capacidade logística e transferência total de tecnologia ao Brasil. Segundo grande erro da cotação: um relatório de avaliação de proposta vazar, tornando público os pontos favoráveis e desfavoráveis de cada participante, antes que o processo tivesse sido finalizado. Como se já não bastasse, um terceiro erro, grotesco desde a seleção dos finalistas capacitados.


Em menos de uma semana do anúncio por parte da FAB sobre qual a melhor opção técnica, Hervé Morin, ministro da Defesa da França, disse ainda que “o caça francês "é incomparável" com o favorito da FAB, o sueco Saab Gripen, porque um já é operacional, e não "um avião que não voa, que não existe".[7]

Resumindo, a FAB elegeu e tornou público, que o melhor avião para atender ao Brasil, era um avião que ainda está no projeto, que ainda não existe: terceiro grande erro. O erro começou quando deixaram que a SAAB participasse da RFI com um avião projeto, e o comparassem com os demais. Quarto grande erro.

Entendendo o porquê do DASSAULT (RAFALE), ou melhor, da França.

Recentemente, o Senado brasileiro aprovou um empréstimo externo no valor de 6,080 bilhões de euros (US$ 8,645 bilhões) para a construção, em cooperação com a França, de cinco submarinos, incluindo um nuclear, e a compra de 50 helicópteros militares, para as três forças, que serão fornecidos entre 2010 e 2016 por um consórcio formado pela brasileira Helibras e pela Eurocopter, filial do grupo europeu EADS.

Há anos o Brasil sonha com o desenvolvimento de um submarino nuclear, uma possibilidade que começou a concretizar nos últimos meses mediante um acordo estratégico de defesa negociado com a França e formalizado durante a visita do presidente francês, Nicolas Sarkozy ao Brasil.

Com a transferência de tecnologia Francesa ao Brasil, será possível o país contar com seu primeiro submarino de propulsão nuclear em 2021vindo assim ratificar que o acordo com a França tem como condição a transferência de toda a tecnologia nuclear relativa aos navios, o que, na sua opinião, representará um "enorme salto" de qualidade para a indústria naval nacional.[8]

Resumindo, é evidente a preferência brasileira pelas negociações com a França, por um único critério: relações comerciais e estabelecimento de parceria estratégica militar com um forte parceiro.

O francês é o preferido de Jobim e de Lula, que defendem negócio com a França porque o país é seu "parceiro estratégico", com o qual assinou grande acordo militar em 2009.”[9]

Consideração final:

Após aprofundarmos em uma negociação complexa como esta, fica mais prático e fácil enxergar aquilo que já escrevi em artigos anteriores, onde falo sobre variáveis da negociação, levantamento de informações, sobre “sugarmos” ao máximo as informações quanto às necessidades e objetivos da cotação, para que durante sua evolução os caminhos não possam ser distorcidos, gerando mais transtornos que soluções práticas ao atendimento da demanda.

No caso em questão, é evidente que desde o começo, o que menos importou foi o preço. Mas sim, o atendimento de uma tecnologia necessária à renovação da FAB visando a proteção territorial, bem como a capacidade de evoluir o parque produtivo de aviões da EMBRAER, e por fim, estabelecer uma aliança estratégica militar forte.

Assim, embora eu enxergue o processo realizado como repleto de erros, entendo e aceito a escolha da proposta Francesa, não a enxergando como a mais cara apenas, mas sim, A ÚNICA PROPOSTA QUE ATENDE A TODAS AS NECESSIDADES BRASILEIRAS INFORMADAS NA COTAÇÃO.

(Segundo a reportagem da Folha, Lula e Jobim bateram o martelo a favor do caça francês Rafale. A decisão teria sido tomada depois da francesa Dassault reduzir de US$ 8,2 bilhões (R$ 15,1 bilhões) para US$ 6,2 bilhões (R$ 11,4 bilhões). O Rafale ficou em último no relatório técnico da FAB, que trouxe em primeiro o caça sueco Gripen e em segundo o americano F-18, da Boeing.)[10],

[1] Blog Clipping de Relações Internacionais, Projeto FX-2 – Esclarecimentos, http://temasinternacionais.wordpress.com/2009/09/14/projeto-fx-2-esclarecimentos/ , acessado em 04-02-09
[2] Blog Clipping de Relações Internacionais, Projeto FX-2 – Esclarecimentos, http://temasinternacionais.wordpress.com/2009/09/14/projeto-fx-2-esclarecimentos/ , acessado em 04-02-09
[3] Blog Clipping de Relações Internacionais, Projeto FX-2 – Esclarecimentos, http://temasinternacionais.wordpress.com/2009/09/14/projeto-fx-2-esclarecimentos/ , acessado em 04-02-09
[4] Blog Clipping de Relações Internacionais, Projeto FX-2 – Esclarecimentos, http://temasinternacionais.wordpress.com/2009/09/14/projeto-fx-2-esclarecimentos/ , acessado em 04-02-09
[5] Blog Clipping de Relações Internacionais, Projeto FX-2 – Esclarecimentos, http://temasinternacionais.wordpress.com/2009/09/14/projeto-fx-2-esclarecimentos/ , acessado em 04-02-09
[6]Site Wikpédia a enciclopédia livre, A escolha dos finalistas e a polêmica com o Sukhoi, acessado em 04-02-2010 http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_FX-2#A_escolha_dos_finalistas_e_a_pol.C3.AAmica_com_o_Sukhoi
[7]Site Jornal Estadão, 'Gripen é avião que não voa, que não existe', diz França, acessado em 04-02-2010 http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,gripen-e-aviao-que-nao-voa-que-nao-existe-diz-franca,491927,0.htm
[8] Site UOL, Senado aprova empréstimo bilionário para submarinos e helicópteros, http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2009/09/02/ult1808u145931.jhtm , acessado em 04-02-2010
[9] Site UOL, jornal Folha On Line, Oposição defende participação do Congresso na compra dos caças, http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u689454.shtml , acessado em 04-02-2010
[10] Site UOL, jornal Folha On Line, Oposição defende participação do Congresso na compra dos caças, http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u689454.shtml , acessado em 04-02-2010