domingo, 12 de julho de 2009

“Quem nunca viu doce, quando vê melado, se lambuza...”

Este ditado é bem antigo, mas eu gosto muito dele, e acho que nunca perde a sua praticidade na utilização em nosso dia-a-dia.

Recorro a ele para escrever sobre uma situação que um grande amigo meu gerente de vendas do setor de borrachas, em especial solados para calçados, me contou estes dias.

Ele brincava comigo que “-Todo comprador deveria morrer. Ô raça que se acha”. Quando o questionei sobre essa revolta ele me disse o que havia acontecido com ele.

Seu representante de vendas entrou em contato com um comprador em uma cidade que fica a cerca de 500 km de Franca (SP), cidade sede da empresa a qual eles representam, e foi agendada com antecedência uma visita de negócios. Uma viagem de cerca de 6hs. Ao chegar lá, o comprador simplesmente, sem aviso ou algo parecido, teve de viajar e sequer os avisou, fazendo assim com que tudo o que haviam planejado durante a semana e para aquela longa viagem fosse cancelado.

Pelo que consta, este “comprador” era um assistente de compras na mesma empresa, passando a se tornar um comprador em função da saída do então titular da posição.

Casos como esse, são totalmente comuns (infelizmente) em compras. Embora eu ainda não tenha publicado aqui, mas na minha carreira de negociador, tenho pelo menos cinco anos de experiência em vendas, tendo por diversas vezes “enfrentado essas feras da arrogância, que se escondem atrás das mesas e sentam sobre o poder do pedido de compra”.

A parte boa nisso tudo, pelo menos para mim, e acredito modesta parte que para a sorte da empresa que me contratou, é que por conhecer ambos os lados da mesa, tenho hoje uma grande facilidade no trato com o pessoal de vendas.

Este caso do profissional que “deram a ele o apelido de comprador” que me foi contada pelo meu amigo, infelizmente reflete uma realidade no meio de compras. Porém, me vejo obrigado a levantar a bandeira da ética e bons costumes, afirmando que não somos todos assim. Este “comprador” certamente vive o vislumbramento do poder de ser quem ele é hoje, e nunca soube o que é ficar sentado em uma recepção por uma, duas, duas horas e meia esperando para que o comprador o atendesse, tendo que ainda correr em mais três ou quatro clientes para tentar alcançar sua cota mensal de vendas.

Ele está na realidade, pisando em uma linha muito arriscada, pois o boca a boca entre o pessoal de vendas é extremamente forte. À medida que a arrogância toma o espaço da cordialidade, corre-se o risco do resultado em compras ser cada vez menor, com negociações mal feitas, pouca vontade de vendas brigar pelo seu cliente e enfim, começam então surgir práticas e meios escusos de negócio.

Compete a gerencia de compras, e principalmente à diretoria da empresa a qual este comprador presta seus serviços profissionais estar “antenada”, mostrando a ele onde é seu lugar, e principalmente, ensinando-o que compras e vendas são as profissões mais antigas da humanidade, e que caminham lado a lado. Não faz mal a cordialidade, humildade e principalmente: reciprocidade.

Finalizando: “Nunca joguem um balaio inteiro de maças fora por apenas algumas estarem podres.”

O bom perdedor vs. o mal perdedor

Em um processo de cotação, tenham certeza: a concorrência é dura e extremamente competitiva. É obvio que todos entram para ganhar, não há dúvidas.

Ao entrar em um processo destes, embora queiramos ganhar, temos de estar prontos para perder. Afinal, imagine um processo onde existem mais de 70 participantes, se todos ganhassem, meu Deus... não consigo imaginar.

As variáveis que envolvem um processo de cotação, são desde a identificação de potenciais participantes, o convite à estes, solicitação de documentação (que acreditem, elimina boa parte dos aventureiros), além de claro, a proposta comercial com os preços.

Quando o universo de participantes é considerável, as chances de que haja um empate técnico é alta (entenda como uma diferença de 5% à 10% entre os preços). Neste momento, o negociador responsável pela cotação tem de considerar todas as varíavéis – já listadas – e assim partir para a próxima fase que é a fase final, onde serão abertas novas oportunidades de proposta pelos finalistas (empatados tecnicamente).

Aí está “o pulo do gato”: no processo de cotação, ou melhor, no pedido de orçamento (RFQ - Request For Quotation, em português pedido de orçamento), o que foi informado? A intenção da contratante é que haja um vencedor? Dois? Três?

Enfim, consideremos que no pedido de orçamentos estava informado que haveria apenas um vencedor, e inclusive, orientações transparentes aos concorrentes que estes deveriam desconsiderar suas margens altas na composição de preços e etc. Qual seria sua postura como participante do processo? A minha ao menos seria a postura de entrar para ganhar. Analisaria todas as formas de retorno que determinada cotação poderia me trazer e faria minha proposta, como também se avaliasse que a proposta deixaria de ser interessante, gerando prejuízo, participaria torcendo por uma vitória, mas já sabendo das reais possibilidades de perder. É inegável: você está no mercado e sabe da postura de seu concorrente. A não ser que esteja começando agora, e etc.

Enfim, todas as fases realizadas e sai então o resultado da cotação. Nós perdemos.

As posturas adotas nesta situação vão desde o participante aceitar que perdeu, questionando ao negociador / comprador apenas os pontos que lhe interessam para que na próxima cotação seu desempenho seja mehorado, e desta forma, apresento à vocês o bom perdero. Ou, pode-se adotar a seguinte postura: “-Não aceito! Meu preço era o melhor, minha proposta era a melhor, algo de errado no processo aconteceu.”

Assim, apresento à vocês o mal perdedor. Essa figura é cada vez mais contante no mercado, e não será o primeiro nem o último caso, pode acreditar. Por experiência própria, posso afirmar que este “camarada” vai dar muita dor de cabeça ao negociador / comprador por pelo menos 15 dias. Ele vai enviar e-mail para a diretoria da contratante colocando o processo sob suspeita, vai ligar gritando, ofendendo, e etc.

Por fim, minha contribuição para que os compradores / negociadores que lêem este artigo estejam “blindados” contra os mal perdedores é: elaborem um processo de cotação completo, detalhado, se documente por e-mail’s, não fique apenas no que foi conversado via fone, seja criterioso na análise da documentação, e como já escrito boas vezes aqui neste blog, sejam éticos e imparciais.

Aos bons perdedores, parabéns, pois na próxima cotação, com certeza vocês terão grandes oportunidades em função do aprendizado.

Aos mal perdores, paciência e humildade. Na próxima cotação, vocês serão novamente convidados!